O Exército concluiu na semana passada a investigação sobre o furto das 21 metralhadoras de um quartel, ocorrido em setembro do ano passado, em Barueri, na Grande São Paulo, e indiciou militares e civis acusados pelo sumiço das armas.
Além do furto, eles foram responsabilizados por crimes como peculato, receptação e extravio das armas. Dezenove metralhadoras foram recuperadas, outras duas ainda são procuradas (saiba mais abaixo). As informações foram apuradas pela TV Globo e pelo g1.
Oito pessoas, sendo seis militares e dois civis, chegaram a ser investigadas por causa das armas que desapareceram do Arsenal de Guerra São Paulo (AGSP) em 2023. A investigação pediu prisões de algumas delas à Justiça Militar.
Procurado para comentar o assunto, o Comando Militar do Sudeste (CMSE) confirmou a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM) sobre o furto das armas, mas não informou o número de indiciados, nem quantos são militares e civis. Tampouco deu detalhes do inquérito, por exemplo, se as prisões foram decretadas, sob a alegação de que o caso ainda está sob sigilo judicial.
"O Comando Militar do Sudeste informa que o Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar as circunstâncias do furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri (SP), foi finalizado no dia 16 de fevereiro. Na mesma data, foi remetido à Justiça Militar da União, que determinou a manutenção do sigilo das investigações", informa a nota do Exército.
O IPM foi encaminhado primeiro ao Ministério Público Militar, que decidirá se há elementos para denunciar os investigados. Depois, o seu posicionamento seguirá para a Justiça Militar, que avaliará se há ou não indícios para incriminar as pessoas acusadas e torná-las rés no processo.
Se forem punidos, os militares poderão receber penas de até 50 anos de prisão, cada um, e depois serem expulsos do Exército. O CMSE também não confirmou se os militares indiciados foram afastados ou se continuam trabalhando. Os civis também podem ser responsabilizados criminalmente.
Em fevereiro deste ano, o CMSE cumpriu outro mandado de busca e apreensão na casa de um dos suspeitos, que ajudou, no entendimento dos investigadores, no esclarecimento do furto das armas. Segundo os investigadores, criminosos haviam encomendado as metralhadoras a militares que trabalhavam no Arsenal de Guerra. Eles retiraram o armamento, que foi levado para os bandidos, de acordo com a apuração.
Ao todo, 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e oito metralhadoras calibre 7,62 sumiram. O desvio só foi descoberto mais de um mês depois, em outubro, durante recontagem das armas.
As câmeras de segurança do local haviam sido desligadas no dia do crime. Por esse motivo, não há imagens do momento do furto.
De acordo com a investigação do Exército, militares furtaram as metralhadoras para negociar com traficantes de drogas ligados a facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV), no Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.
Com a ajuda do Exército, as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo recuperaram 19 dessas armas. Outras duas continuam sendo procuradas.
Dez metralhadoras foram abandonadas por criminosos dentro de veículos no Rio, sendo oito em 19 de outubro e duas em 1º de novembro. No documento da força de segurança fluminense, um policial contou que a Polícia Civil do estado negociou com integrantes do CV, por meio de interlocutores, a devolução das dez armas.
Segundo o documento, os traficantes, um de apelido Dedei, e outro, conhecido por Capixaba, estariam de posse das metralhadoras. Segundo o policial, ele suspeita que as metralhadoras foram adquiridas por eles para atacar aeronaves e veículos blindados das forças de segurança.
O agente não informa o que teria sido oferecido em troca. Mas fontes da reportagem disseram que o acordo previa que militares e policiais não entrariam na comunidade onde a facção criminosa atua se, em troca, as armas fossem devolvidas. Procurados pela TV Globo e pelo g1, Exército e Polícia do Rio negaram esse acordo.