A Justiça decretou neste sábado (25) a prisão preventiva do casal suspeito de manter uma idosa internada, mesmo sem estar doente e de forma compulsória, em duas clínicas psiquiátricas. Patrícia de Paiva Reis e Rafael Machado tinham sido presos na sexta-feira.
Mais cedo, também neste sábado, polícia interditou uma das clínicas psiquiátricas em Petrópolis, na Região Serrana, onde, segundo investigadores, a idosa Maria Aparecida Paiva foi internada à força, como parte de um plano da própria filha e genro.
Agentes da 9ª DP (Catete), que investigam o caso, chegaram por volta das 11h à Clínica Revitalis, que fica no distrito de Araras. Segundo a polícia, o local é investigado por ter sido usado para prática do crime de sequestro qualificado.
A outra clínica que também recebeu a vítima, identificada como Vista Alegre, localizada em Correias, também é alvo das investigações. Com a interdição, o estabelecimento não pode receber novos clientes e os que já estão em atendimento devem ser transferidos para outros locais.
Segundo as investigações, o casal tinha o objetivo de desqualificar a vítima para ficar com parte da pensão dela.
A mulher que foi internada e sequestrada à força, segundo a polícia, pela filha e o genro também acredita que o crime foi motivado por questões financeiras.
O delegado Felipe Santoro, responsável pela investigação, explicou que também vai apurar a conduta dos médicos que atenderam Maria Aparecida.
A médica Aline Cristina Correia, que assinou o laudo para a internação da vítima, atestou que Maria tinha apresentado quadro depressivo grave e recorrente e delírio, mas nada disso foi confirmado. A médica e o diretor da Clínica Revitalis serão intimados a depor.
Em nota, a Clínica Revitalis afirma que “foi procurada por Patrícia de Paiva Reis, que solicitou a internação de sua mãe de 65 anos, com ‘histórico de depressão com episódios de confusão mental’”. A paciente chegou transferida de outra clínica.
Ainda segundo a nota, “Em 5 dias na clínica, com abordagem multidisciplinar da equipe, foi constatado que a paciente não mais apresentava indicação de internação”.
A Revitalis diz ainda que em nenhum momento houve resistência ou recusa por parte da paciente em permanecer sob tratamento e que não tem "ligação pessoal com familiares de pacientes sobre qualquer outro interesse que não seja a prestação de serviços assistenciais de saúde".
Em entrevista ao RJ2, Maria Aparecida relatou o desespero de ficar internada em uma clínica psiquiátrica, mesmo sem estar doente.
Nesta sexta-feira, a polícia prendeu a filha de Maria Aparecida, Patrícia de Paiva Reis, e o genro Rafael Machado. Maria estava internada desde o dia 6.
"Estava saindo do bando e uma ambulância, na mesma calçada, me pegou e me jogou dentro da ambulância. O rapaz falou: "Nós vamos pra Petrópolis, porque lá é melhor'. Mas quem tá fazendo isso ? Sua família. Eu fiquei desesperada, gritando, gritando. Chegamos em Petrópolis, me botaram num quarto, trancado, sem janela, sem nada e eu fiquei lá três dias", lembra ela.
Depois do período, ao receber uma visita da filha, ela achou que ia ser liberada, mas na verdade foi apenas transferida. "Desci toda feliz, porque achei que ia embora, quando cheguei lá ela falou que ia pra outra clínica", lamentou.
Como motivos para a internação, Maria diz que a filha ficou com raiva porque ela denunciou que estava maltratando os netos. Além disso, ela vê uma questão financeira: "Tem questão financeira envolvida também, porque ela tem medo de perder a pensão do filho dela e se essa denúncia vai pro processo ela perde, porque o pai está pedindo a guarda do filho", acrescentou.
"Olha, eu fico muito triste [disso tudo o que está acontecendo vir da própria filha]. Nunca pensei que isso fosse acontecer. Isso é tão verdadeiro, envolvido no dinheiro, porque no dia que ela me botou na clínica, ela contratou duas faxineiras, limpou meu apartamento e já alugou o apartamento". Segundo Maria, o imóvel foi alugado para o carnaval.