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2 de julho de 2020

Brasil - Ciclone bomba: como choque de massas formou fenômeno que devasta Sul do país

O meteorologista explica que o furacão Catarina, que atingiu mais de 30 mil casas, matou 11 pessoas e feriu outras centenas no Sul em 2004, também era um ciclone extratropical.

Ele conta que, na época, o sistema passou pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e chegou ao oceano Atlântico, assim como o "ciclone bomba". A diferença é que o Catarina encontrou mais ar quente no mar, onde ganhou energia e voltou para o continente.

"Isso causou ventos muito fortes na costa de Santa Catarina. Mas depois que ele volta para o continente, perde a energia da água do mar que o alimentava e morre. Mas se houver correntes sempre o alimentando, ele pode ir até a África", afirmou.

Ele disse que esse fenômeno não causa turbulências em aviões, por exemplo, pois só chega a 5 mil metros de altitude. Um avião costuma trafegar a mais de 10 mil metros durante as viagens. Já um furacão pode atingir alturas de até 15 mil metros — ou 15 km.

Ar quente e frio
Os especialistas ouvidos pela BBC disseram que a formação desses ciclones intertropicais ocorre por conta do encontro de duas massas: uma de ar quente e outra de ar frio. A força desse sistema depende basicamente do contraste entre elas.

"Esse (ciclone bomba) teve uma queda de pressão mais intensa e, além da diferença de temperatura, o gradiente de pressão era muito alto. Existe um ar frio vindo por cima, mais pesado e seco, contra um ar quente de baixo, leve e úmido. O frio cai enquanto o quente quer subir, o que força um movimento no sentido horário que vai aumentando de intensidade conforme as massas se juntam", afirmou o especialista do Inmet.

Ele disse ser provável que um fenômeno como esse se repita ainda neste mês. Mas isso não significa que terá a mesma intensidade. Ele contou que, em junho, já havia ocorrido um, e em maio, outro mais forte. A diferença é que não havia um contraste de temperatura e pressão tão grande — e por isso não causaram tantos estragos.

"Normalmente eles (ciclones) causam ventos entre 60 e 70 km/h. Dessa vez foi quase o dobro. É possível inclusive que tenha formado tornados (mais de 120 km/h) entre o Paraná e São Paulo. Não sabemos por que eles ocorrem dentro das tempestades e fica difícil visualizar", afirmou Francisco de Assis.

O meteorologista do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo (CGE) Michael Pantera disse que os ventos frios em altitude, chamados de correntes de jato, também foram um fator determinante na potência do ciclone.

"É um vento localizado quase perto da estratosfera. A baixa pressão em superfície puxa o ar do lado e sobe no meio porque é leve. Se eu tenho uma força tirando o ar de cima, como uma seringa, isso intensifica a subida do vento e a força do ciclone", afirmou Pantera.

Ele disse que esse fenômeno costuma ocorrer na região Sul do país, em latitudes menores que 20º. São Paulo está a 23º, por exemplo. Mas disse que, ainda assim, o Estado é suscetível a esse tipo de sistema.

Ele lembra que, em junho de 2015, diversas cidades do interior paulista, como Jarinu, São Roque e Campinas, registraram tornados.

"Isso não ocorre nas outras regiões do país porque na linha do Equador é mais quente e não tem tanto esse choque de uma massa muito fria com outra muito quente", disse Pantera.

O meteorologista do Centro de Gerenciamento do CGE Michael Pantera disse que a passagem do ciclone provocou uma frente fria em São Paulo que deve derrubar as temperaturas pelo menos até o fim de semana.

"Ele causou uma forte chuva em São Paulo e a tendência é esfriar. A previsão é de que São Paulo registre uma mínima de 8ºC. Mesmo com sol ao longo do dia, a temperatura não passa de 18º C na quinta e sexta-feira", afirmou Pantera.


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