Médicos cubanos que permaneceram no país após o término de sua participação no programa Mais Médicos estão "ansiosos" para voltar ao trabalho e ajudar na contenção do coronavírus, disse à BBC News Brasil Niurka Valdes Perez, representante desses profissionais. Embora o governo de Jair Bolsonaro já tenha anunciado que vai convocá-los, ela diz que o chamado ainda não ocorreu.
Segundo Perez, que preside a associação de médicos cubanos que ficaram no Brasil (Aspromed), há cerca de 2 mil profissionais que continuam no país. Sem poder exercer a profissão, muitos vivem de bicos e trabalhos informais. Eles se dividem em três grupos: os que se naturalizaram brasileiros, os que receberam o direito de residência permanente, e os que ficaram na condição de refugiados. Já a Embaixada cubana em Brasília diz que parte deles já retornou à Cuba, restando cerca de 1,6 mil no Brasil.
O Ministério da Saúde anunciou que vai contratar 5.811 profissionais para reforçar o enfrentamento ao coronavírus, com contratos de um ano de duração. O primeiro edital de convocação, no entanto, exige que a pessoa tenha registro no Conselho Regional de Medicina (CRM). Essa exigência exclui a imensa maioria dos médicos cubanos, que não possui o Revalida (exame para revalidar diplomas de medicina obtidos em outros países).
À BBC News Brasil, o ministério disse que os médicos cubanos só serão chamados na terceira convocação, prevista para ocorrer na próxima semana ou na seguinte. A previsão é de contratar cerca de 1,8 mil cubanos.
A primeira convocação, aberta até este domingo, está registrando grande procura. Até quinta-feira, já havia 7.167 inscritos. No entanto, a participação desses interessados só será confirmada após a verificação de documentos. Em convocações anteriores, houve também desistência de médicos brasileiros depois da distribuição pelas cidades do Brasil. Por isso, o Ministério da Saúde acredita que haverá convocação de cubanos.
Os médicos contratados na primeira convocação devem começar a trabalhar em abril. A bolsa-auxílio será de R$ 12,38 mil.
O governo cubano encerrou sua participação no Mais Médicos em novembro de 2018, logo após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em reação aos ataques dele aos profissionais de Cuba durante a campanha. Naquele momento, havia mais de oito mil médicos cubanos no país, cerca de metade do contingente do programa.
Porém, no final de 2019, o Congresso aprovou a reintegração dos médicos cubanos que permaneceram no Brasil ao Mais Médicos. Isso foi incluído pelos parlamentares na lei que criou o Médicos pelo Brasil, novo programa do governo federal que deve substituir futuramente o Mais Médicos e que é voltado apenas a médicos com CRM. Por isso, desde o início desse ano os cubanos estão na expectativa de serem recontratados.
A estimativa do Ministério da Saúde é que 90% dos casos de Covid-19 (nome da doença causada pelo novo vírus) serão tratados nos 42 mil postos de saúde do país. A pasta recomenda que apenas os casos mais graves, que apresentem sintomas como febre, dor de garganta e dificuldade respiratória, recebam tratamento hospitalar.