A Polícia Civil do Rio prendeu na madrugada deste sábado (7) 149 pessoas –incluindo sete menores apreendidos– suspeitas de participarem do maior grupo de milicianos do estado. Eles participavam de uma festa em um sítio em Santa Cruz, zona oeste do Rio.
A comemoração foi organizada pela Liga da Justiça, organização formada por policiais, ex-policiais e bombeiros. A organização atua no Rio e em municípios da Baixada Fluminense e da Costa Verde. Pelo menos quatro pessoas foram mortas durante a operação, que contou com policiais do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da Divisão de Homicídios e das Delegacias da região).
Dois ônibus lotados de presos chegaram por volta das 9h na Cidade da Polícia, na zona norte. Foram apreendidos 13 fuzis, 19 pistolas e carros roubados na ação.
Policiais militares também foram presos. No final da tarde, a Polícia divulgará mais detalhes da operação. “Esse é o mais duro golpe contra as milícias no estado e novas operações virão nos próximos dias”, disse o chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa.
A estação do BRT Cesarão III, em Santa Cruz, foi incendiada por volta das 5h20 deste sábado. A polícia suspeita que milicianos tenham colocado fogo na estação para desviar a atuação dos policiais.
Os milicianos disputam áreas e mantêm moradores sujeitos a leis próprias em troca de alegada segurança. Wellinghton da Silva Braga, o Ecko, chefe da mílicia, conseguiu fugir durante a troca de tiros.
A operação teve início por volta das 3h, quando policiais civis cercaram a região do sítio, que abrigava cerca de 400 pessoas. A festa contava com espaço vip, copo personalizado e uma série bandas de pagode.
No total, 40 policiais civis participaram da operação. Os policiais demoraram cerca de quatro horas para deixar o sítio. Lá, eles separaram milicianos de pessoas que pagaram o ingresso para aproveitar a festa. Nenhuma mulher foi presa.
“A sociedade pode confiar na intervenção federal. Outras operações já estão sendo planejadas e serão executados em curto prazo. O Rio precisa voltar a ser uma terra feliz, de um povo feliz, trabalhador”, afirmou o secretário de Segurança Pública, general Richard Nunes, nomeado há cerca de um mês pelo interventor, o general Braga Netto. Nunes participou da entrevista coletiva, realizada na Cidade da Polícia, na zona norte do Rio.
A investigação teve início há mais de um ano na Delegacia de Homicídios da Baixada, que há oito meses cruzou os dados com a Delegacia de Campo Grande, bairro que concentra o maior número de milicianos.
A intervenção na Segurança Pública do Rio foi decretada no dia 16 de fevereiro pelo presidente Michel Temer. Segundo o chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, a prisão de centenas de milicianos deve reduzir o número de mortes na região.
De acordo com policiais, o grupo de milicianos se associava a traficantes de várias localidades da zona oeste e dos municípios vizinhos. Lá, eles permitiam a venda de drogas e o roubo de cargas na região mediante o pagamento de uma porcentagem.
Documentos da milícia foram aprendidos na operação e deverá desencadear uma série de operações com o objetivo de identificar agentes de segurança corrompidos pelo grupo.
Nos últimos anos, a estrutura dos milicianos mudou. Policiais militares e civis, bombeiros e agentes penitenciários seguem dando as cartas, mas atuam nos bastidores e reduziram presença na linha de frente. Jovens das comunidades antes cooptados pelo tráfico passaram a ser recrutados pelos milicianos.
Segundo policiais, a Liga da Justiça atua com violência. Eles matam as pessoas que não querem pagar o “pedágio”. O domínio do território virou atividade lucrativa —com taxa de proteção contra crimes, venda de botijão de gás, sinal clandestino de TV a cabo e transporte alternativo.
As milícias ganharam força no Rio no final dos anos 1990. Inicialmente, eram grupos de policiais moradores locais que, cansados de assaltos e tráfico de drogas em seus bairros, organizavam sua própria força à parte do estado.